Revoltas

Rumor de conspiração escrava

Capitania de Pernambuco (1534 – 1821)Recife

Início / fim

29 de abril de 1814 / 31 de junho de 1814

Data aproximada
Escravizados em suas atividades diárias na atual Rua do Bom Jesus, em Recife. Gravura de Luis Schlappriz, [1863-68]. Disponível em: acervo.bndigital.bn.br/sophia/index.asp?codigo_sophia=2849

A paz do domingo do Espírito Santo, dia de Corpus Christi, seria interrompida em Recife no ano de 1814 por rumores de um levante escravo. O dia era 29 de maio, uma data em que se celebra o Santíssimo Sacramento como fonte e centro da vida cristã. Para os escravizados, era um dia de descanso, pois se tratava de um domingo. Nessas ocasiões, a vigilância dos negros era moderada, o que levantava a suspeita de uma possível revolta. Motivos não faltavam para as tensões, pois a elite jamais se esqueceu do que aconteceu em São Domingos (Haiti) em 1791. A revolta que ocorreu na ilha de São Domingos foi uma luta racializada e provocou más lembranças mesmo quase duas décadas depois. Isso pode ter reforçado a preocupação do governador de Pernambuco, Caetano Pinto de Miranda Montenegro, à frente da capitania desde 1804. Antes de deixar ocorrer uma possível manifestação de negros, enviou tropas para três bairros de Recife. Mesmo se tratando de prisões por suspeita, os oficiais dos Regimentos de Linha do Recife e de Artilharia de Olinda prenderam 18 pessoas, sendo nove escravos e nove forros, entre eles uma mulher.

A imagem associada aos homens de cor, tanto livres quanto cativos, reforçava o ambiente escravista no qual estavam inseridos. Ambos eram vistos pela sociedade colonial como subversivos e despertavam suspeitas ao serem encontrados juntos, pois passavam a ideia de conspiração contra os brancos. Os alforriados, por serem considerados “livres”, poderiam financiar as revoltas por possuírem dinheiro e a possibilidade de vagar pela cidade com menos controle.

Em resposta à carta recebida, o Marquês de Aguiar, título dado a Fernando José de Portugal e Castro, que na época era capitão da 7ª Companhia do 3° Regimento de Infantaria da guarnição da Corte, tranquilizou o então governador e afirmou que a rebeldia não passava de um boato sem fundamento. Caetano Pinto tomou uma série de medidas para o controle da ação dos homens de cor. Uma delas foi a dispersão de negros vistos reunidos em praças e ruas, até mesmo em dias santos e domingos. 

Outra prática de repressão que o governador utilizou para manter a ordem pública foi a cassação de patentes dadas pelos governadores da capitania de Pernambuco. Eles concediam Cartas Patentes de “Governador dos Pretos” aos pretos das nações e corporações. Esses homens eram responsáveis pela manutenção da ordem pública e o cumprimento das ordens relativas ao Real Serviço. Algumas denúncias de levantes e revoltas partiam desses negros. Na visão do governador Caetano Pinto, os cargos ocupados pelos negros causavam uma ameaça ao governo.

Os bairros do Recife, Santo Antônio e Boa Vista eram um barril de pólvora, concentrando quinze mil negros e mulatos, de diferentes condições. Além das tensões com a possibilidade de um levante da população negra no Recife, as autoridades temiam verdadeiramente os ventos rebeldes que chegavam das insurreições que ocorreram em Salvador e Recôncavo baiano (haussás em 1807 e 1814; haussás, nagôs e jejes em 1809), assim como rumores em Alagoas. 

Caetano Pinto, ao final da possível revolta, se mostrou bastante orgulhoso de seus feitos ao manter o controle da situação sem precisar derramar sangue ou castigar os suspeitos. Em relação àqueles que foram detidos, o governador ordenou a soltura de todos.

( Sthefani Teixeira, graduanda no curso de História da Universidade Federal Fluminense, bolsista do Programa de Desenvolvimento Acadêmico )

Antecedentes

Rumores de um possível levante escravo em Recife, que ocorreria no dia de Corpus Christi.

Conjuntura e contexto

Havia um medo grande por parte da elite branca resultado da revolução de escravos no Haiti, em 1791, e de levantes que ocorreram na Bahia em 1807, 1809 e 1814. O temor ocasionou em um aumento da vigilância e repressão por parte das autoridades.

Grupos sociais

Autoridades

Lideranças

Repressão

Contenção

  • Expedição armada ou repressão militar
  • Prisões

Instâncias Administrativas

  • Governador da Capitania

Bibliografia Básica

ARAÚJO, Clara Maria de. Governadores das Nações e Corporações: cultura política e hierarquias de cor em Pernambuco (1776-1817). Dissertação de Mestrado. Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2007, pp. 44-56.

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Como Citar

Sem Nome, "Rumor de conspiração escrava". Impressões Rebeldes. Disponível em: https://www.historia.uff.br/impressoesrebeldes/revolta/rumor-de-conspiracao-escrava/. Publicado em: 01 de agosto de 2024.