GOMES, Flávio dos Santos. “Uma tradição rebelde: notas sobre os quilombos na capitania do Rio de Janeiro (1625-1818)”. Revista Afro Ásia, Salvador, v. 17, 1996.
1808 / setembro de 1808
Data aproximadaDurante o século XVIII, escravizados fugitivos das fazendas próximas à Vila de Macaé organizaram um conjunto de quilombos nas matas da região. Estima-se que esses primeiros quilombos tenham se formado por volta de 1790. O Quilombo de Macaé tornou-se uma ameaça aos moradores e às autoridades locais pelos recorrentes assaltos feitos às propriedades da região. No ano de 1808, foram realizadas expedições para reprimir os acampamentos, as investidas resultaram na captura de um grupo de escravizados, entre eles: homens, mulheres e crianças. No entanto pressupõe-se que a resistência não foi derrotada uma vez que as ordens de destruição permaneceram.
A resistência escrava foi uma resposta constante a escravidão. Houve muitas formas de resistir no Brasil, mas as fugas e a formação de comunidades pretas eram as que mais ameaçavam as autoridades locais. A formação de quilombos, que partia dessas fugas escravas, demonstrava a consciência dos pretos sobre a realidade em que estavam inseridos. Os quilombolas, por via de regra, possuíam roças, mantinham relações com os comerciantes locais e cometiam crimes, como saques em propriedades e assassinatos.
Durante o mês de setembro de 1808, o Quilombo de Macaé foi atacado por uma expedição que resultou na captura de 40 pretos, englobando neste grupo crianças, homens e mulheres. O Intendente da polícia Fernandes Viana informou a Rodrigo de Sousa Coutinho, Ministro da Guerra e dos Estrangeiros, as dificuldades que as serras apresentavam para a repressão aos quilombos.
A repressão podia envolver tanto a população local e capitães do mato com expedições próprias como a solicitação de soldados. Alguns casos eram usados nativos por conhecerem as florestas da região. Os invasores ao obterem sucesso sobre os rebeldes queimavam suas roças, casas e capturavam os rebeldes, o costume era devolvê-los aos respectivos donos.
Essas não foram as primeiras tentativas e nem a última já que era de conhecimento das autoridades o fracasso das expedições anteriores. Após esse episódio, foi ordenado que houvessem novas investidas contra os quilombos.
Não há outros documentos sobre o Quilombo de Macaé até o momento, assim não se conhece em detalhes o processo de formação do quilombo, tampouco a repressão ocorrida após o resultado da expedição em 1808.
Os quilombos eram respostas às severas condições impostas aos escravizados. As incursões de tropas e de capitães-do-mato poderiam pôr fim a algumas comunidades, mas, enquanto o sistema escravocrata os explorasse, a resposta viria cada vez mais violenta.
GOMES, Flávio dos Santos. “Uma tradição rebelde: notas sobre os quilombos na capitania do Rio de Janeiro (1625-1818)”. Revista Afro Ásia, Salvador, v. 17, 1996.
GOMES, Flávio dos Santos. A hidra e os pântanos: quilombos e mocambos no Brasil (sécs – XVII – XIX). Tese (Doutorado em História) – Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 1997.
Sem Nome, "Quilombo de Macaé". Impressões Rebeldes. Disponível em: https://www.historia.uff.br/impressoesrebeldes/revolta/quilombo-de-macae-2/. Publicado em: 22 de janeiro de 2025.