Rebeldes / Personalidade

Monteiro Lopes

  • Brasil
  • Província de Pernambuco (1821 - 1889)

Biografia

Pernambucano de Recife, Manuel da Motta Monteiro Lopes nasceu livre, em 25 de dezembro de 1867. Filho de africanos – seu pai era alfaiate e sua mãe comerciante –, formou-se bacharel na prestigiosa Faculdade de Direito do Recife, em 1889. Junto com outros colegas negros, também estudantes de Direito, atuou no movimento abolicionista e no movimento republicano, junto ao operariado e à população liberta nessa mesma cidade, organizando clubes republicanos, incentivando a alfabetização – condição para votar naquele tempo –, a participação política e o voto. Também escreveu poesias e romances que foram publicados nos jornais do Recife no final do século XIX.

Era conhecido na época como “representante dos africanos” e “líder dos negros”. Ele próprio se definia politicamente como republicano, socialista não-revolucionário, defensor dos trabalhadores e opositor das políticas estatais. Foi membro da Confederação Abolicionista, da Sociedade União dos Homens de Cor do Rio de Janeiro e da Irmandade de N. S. do Rosário e de S. Benedito de Recife e do Rio. 

Já formado em Direito e atuando como advogado, Monteiro Lopes iniciou sua carreira política em Recife, na cidade onde nasceu, ao se candidatar a intendente municipal (atual cargo de vereador) em 1891, mas perdeu. Não obteve nenhum voto, situação comum na época devido às fraudes eleitorais comandadas pelas oligarquias. 

Em 1890, saiu do Recife para tentar a vida fora de Pernambuco. Passou pelo Pará e pelo Amazonas – onde ocupou brevemente os cargos de chefe de polícia, promotor público e juiz de direito – mas não foi bem-sucedido. Logo em seguida, rumou para o Rio de Janeiro – então capital do país – e acabou fixando residência na cidade, trabalhando como advogado. No Rio deu continuidade a sua atuação política junto a associações, irmandades e sindicatos, especialmente aqueles que eram compostos por uma maioria de pessoas negras. 

Monteiro Lopes fez parte de uma rede diversa de homens negros letrados que esteve em evidência entre o final do século XIX e início do século XX no Brasil, a partir de sua presença no Movimento Abolicionista, atuando pelo cumprimento dos direitos civis e pela ampliação de direitos políticos e sociais na imprensa, nas tribunas, nos comícios, nos palcos, no associativismo e, em menor escala, no parlamento. Estamos nos referindo a José do Patrocínio, Ferreira de Menezes, Luiz Gama, Vicente de Souza, Evaristo de Moraes, Rodolpho Xavier, Hemetério dos Santos, Sabino dos Santos, Feliciano André Gomes, Ezequiel de Souza, Moyses Zacharias, Israel Soares, Padre Olympio, Honório Menelik, Hilário Jovino, entre outros. Em vários momentos, esses sujeitos constituíram laços e alianças, compartilharam reflexões sobre como o racismo impactava suas vidas, a população negra e o Brasil. Nomes, infelizmente, ainda pouco presentes nos livros de História.

Monteiro Lopes também manteve conexões com trabalhadores e ativistas negros do exterior, como o norte-americano Booker T. Washington – um ex-escravizado abolicionista que se fez educador e que tinha fama internacional. E ainda investiu esforços para que a Abolição da escravidão fosse lembrada também como uma conquista dos negros. Nessa direção, Monteiro Lopes jamais deixou de participar, no Rio, das celebrações públicas do “13 de maio” a fim de marcar aquela conquista e pautar outras, como a fim da discriminação racial. Não por coincidência, Monteiro Lopes era um grande admirador do escritor e político José do Patrocínio, tendo realizado, no início do século XX, uma campanha de financiamento para a construção de uma estátua de bronze em sua homenagem.

Em 1893, Monteiro Lopes já era um advogado e um ativista conhecido entre os trabalhadores cariocas. Nesse mesmo ano, candidatou-se a intendente municipal pela cidade do Rio e ganhou. Dois anos depois, candidatou-se a deputado federal e perdeu. Em 1906, voltou a eleger-se intendente municipal. Em 1909, tentou novamente eleger-se deputado federal, porém, em função das derrotas anteriores – relacionadas às fraudes e o jogo político das oligarquias – decidiu não mais se candidatar de modo independente, isto é, sem vinculação a um partido político. Filiou-se ao Partido Republicano Democrata – uma organização que tinha em seu programa a ampliação da instrução pública e do voto popular. Realizada a votação, em janeiro de 1909, segundo a apuração extraoficial publicada na imprensa, Monteiro Lopes estava eleito. 

Mas, a vitória ainda não estava certa, pois surgiram boatos de que o Presidente Affonso Pena e do seu Ministro das Relações Exteriores, o Barão do Rio Branco não deixariam Monteiro Lopes tomar posse em função de sua cor, pois isso envergonharia o país. Além disso, o Governo precisaria de um político alinhado aos seus interesses nessa vaga para aprovar o orçamento federal. 

Em 15 de fevereiro de 1909, Monteiro Lopes realizou uma grande reunião com “homens de cor” no Centro Internacional Operário para tratar da sua possível exclusão da Câmara dos Deputados. Entre outras coisas, deliberaram: pedir apoio às corporações, aos sindicatos, à imprensa, às organizações compostas por homens negros na cidade e em todo o país; enviar uma carta a Rui Barbosa, pedindo que, como senador pelo Estado da Bahia, “onde a maioria é gente de cor”, aconselhasse à bancada baiana a não deixar que Monteiro Lopes fosse excluído da Câmara por ser negro; fazer uma manifestação pública e solene à imprensa livre e independente; e convocar um grande comício popular. 

Após uma intensa campanha nacional, em abril de 1909 Monteiro Lopes tomou posse. Como deputado federal, as propostas e projetos de sua autoria priorizaram os direitos trabalhistas. Ao longo de 1909 e 1910 fez várias viagens pelo país e ao exterior para agradecer o apoio recebido de entidades e lideranças negras em prol de sua posse. 

Monteiro Lopes faleceu em 13 de dezembro de 1910, aos 42 anos, antes de completar seu mandato, vitimado por uma falência dos rins. Deixou esposa, Anna Zulmira, e um filho, Aristides. 

A experiência de ser o único político negro nas casas legislativas pelas quais passou, ainda que dolorosa, foi possível porque esteve sustentada em uma rede de indivíduos e coletividades negras que construíram e puseram em prática  laços de solidariedade e estratégias de defesa, de luta e de sobrevivência. Monteiro Lopes não estava sozinho!’

 

(Carolina Vianna Dantas, Doutora em História pela UFF, Professora e pesquisadora da Escola Politécnica da FIOCRUZ e professora do ProfHistória UFF)

 

Fontes de referência para esse texto:

DANTAS, Carolina; ABREU, Martha. Monteiro Lopes e Eduardo da Neves: Histórias não contadas da Primeira República. Niterói: EDUFF, 2020.

____. “Entre festas e discursos: racialização e politização da questão racial nas viagens de Monteiro Lopes pelo Brasil”. In: VENÂNCIO, Gisele. Et al. (Orgs.). Sujeitos na história. Niterói: EDUFF, 2018.

____. MOURA, Jonathan. A emulação do discurso de um político negro na imprensa carioca no início do século XX. Línguas e Instrumentos Linguísticos, Campinas, SP, v. 25, n. 49, p. 1-3, jan./jul., 2022.

PINTO, Ana Flávia Magalhães. Escritos de liberdade: literatos negros, racismo e cidadania no Brasil oitocentista. Campinas: UNICAMP, 2018.

Nascimento

25/12/1867

Morte

13/12/1910
Brasil Província de Pernambuco (1821 - 1889)

Revolta

Origem Étnica

Condição Social

Cargos

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Como Citar

Sem Nome, "Monteiro Lopes". Impressões Rebeldes. Disponível em: https://www.historia.uff.br/impressoesrebeldes/pessoa/monteiro-lopes/. Publicado em: 20 de junho de 2024.

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