Monumento ao Mulato João Carga D'água (Foto: Gustavo Xavier)
O mulato João Vieira da Silva, conhecido como João Cargas-D’Água, foi um dos principais líderes da Revolta do Quebra-Quilos (1874) no interior da Paraíba. A revolta teve como estopim a imposição autoritária do sistema métrico decimal francês (quilograma, grama, etc). Muitos feirantes estavam acostumados a um sistema próprio de medidas, ainda hoje muito usado: “mói”, “palma”, “cuia”, “cacho”, etc.
Cargas D’Água não era escravizado, mas sim um feirante e carregador de água, ofício esse que deu origem ao seu apelido. Revoltou-se contra as medidas autoritárias e os novos impostos que acompanhavam tais normas, como o Imposto de Chão, tributo este cobrado toda vez que os feirantes colocavam seus produtos no chão da Feira. Cargas D’Água e um grupo de revoltosos desceram de um povoado chamado Fagundes e foram até a Feira de Campina Grande. Nessa, o grupo destruiu todos os pesos e balanças representantes do novo sistema métrico decimal. Os equipamentos que não foram quebrados, foram lançados pelos revoltosos no Açude Velho, localizado no centro da cidade de Campina Grande, Paraíba. A cadeia pública da cidade foi arrombada e os presos foram soltos. Os cartórios e outros prédios públicos foram depredados. A repressão não tardaria: espancamentos, prisões, perseguições, açoitamentos e torturas foram amplamente aplicados.
Por conta dessas ações, a revolta foi vista de forma preconceituosa tanto pela elite como por muitos historiadores que viam o movimento como um ato de ignorância e de barbaridade dos chamados “matutos”. Matuto significa aquele que é do mato, do interior ou da roça. Seria o equivalente a “caipira”. Os “matutos” de Quebra-Quilos eram, em sua maioria, mulheres e homens negros e pardos, de origem humilde. Mas a revolta não se resumiu à destruição de balanças. Os revoltosos de Quebra-Quilos se insurgiram contra as medidas absurdas e o autoritarismo do poder imperial.
A história de João Vieira, o João Cargas D’Água, vem sendo resgatada pouco a pouco, após décadas de esquecimento. Em 2014, foi inaugurada, no centro da cidade de Campina Grande, uma estátua de João Cargas D’Água, 140 anos após a Revolta do Quebra-Quilos (1874).
(Carlos Ferreira de Araújo Júnior, Graduado em História e em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), possui especialização em História do Brasil e da Paraíba através das Faculdades Integradas de Patos (FIP).
Fontes de referência para esse texto:
LIMA, L. M. de. Derramando susto: os escravos e o Quebra-quilos em Campina Grande. Campina Grande, Editora da Universidade Federal de Campina Grande (EDUFCG), 2006
- João Cargas-D'Água
Sem Nome, "João Vieira da Silva". Impressões Rebeldes. Disponível em: https://www.historia.uff.br/impressoesrebeldes/pessoa/joao-vieira-da-silva/. Publicado em: 04 de setembro de 2025.