Rebeldes / Personalidade

Francisco Sabino

  • Brasil
  • Província da Bahia (1821-1891)

Biografia

Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira, natural da Bahia, ficou conhecido por ser o líder da revolta que herdou seu nome, a Sabinada. Sabino foi casado com D. Joaquina Gonçalves e era médico, professor substituto da Escola de Medicina na Bahia, editor do jornal Novo Diário da Bahia e revolucionário federalista.

Na Bahia, o crescimento econômico das últimas décadas coloniais e do início de 1820, deu lugar à crise, intensificada após as guerras de independência (1822-1823), a evasão do capital português e grande quantidade de moedas falsas em circulação. O ódio aos portugueses imigrantes que controlavam o mercado varejista de Salvador crescia e era alimentado pelos “exaltados” (liberais radicais) e republicanos.  O declínio econômico intensificava a instabilidade social e racial na cidade de Salvador, capital da província da Bahia, cuja população era formada em grande parte por homens negros escravizados, alforriados e poucos livres.

Com a abdicação de D.Pedro I em 1831, e a eleição como regente do padre Diogo Antônio Feijó, em 1835, o jornal Novo Diário da Bahia  e seu editor passaram a defender um sistema de governo republicano, opondo-se à Regência. Colaborou para as críticas o fracasso do federalismo devido a inaptidão do regente em solucionar os problemas do país. A renúncia de Feijó em setembro de 1837, abriu as portas para um governo centralizador e conservador, contrário ao que pregavam os “exaltados”. Acreditava-se que a renúncia de Feijó teria servido de estopim para o início da revolta, segundo um documento encontrado tempos depois na casa de Francisco Sabino. 

A insatisfação política das camadas médias provocada por  sua exclusão de cargos na Assembléia Regencial, a concorrência e opressão econômica gerada na região devido à expansão da produção açucareira em outros locais, juntamente à seca, foram motivações adicionais para a formação e eclosão da revolta. Ao mesmo tempo, a busca por autonomia da província através da implantação de uma política que atendesse as demandas dos moradores da região, e a defesa de um modelo federativo com o desligamento em relação ao governo central do Rio de Janeiro, foram também causas importantes. 

Liderada por Francisco Sabino, a rebelião ocorrida em Salvador, iiniciada em 6 de novembro de 1837, durou por pouco mais de quatro meses e foi apoiada pela população negra e mestiça livre da província, que apostava no movimento como chance de vingar a discriminação sofrida pela aristocracia branca. 

Sabino participa de todos os momentos decisivos da revolta quando o 3o. Batalhão de Artilharia se subleva e toma o Forte de São Pedro, início dos atos rebeldes que acontece nas primeiras horas do dia 7 de novembro. Francisco Sabino viria a ser a principal liderança dos “sabinos”. Ele atuou de modo marcante na invasão à Câmara Municipal de Salvador, declarando a liberdade da província em relação ao Império e forçando as autoridades a fugirem em embarcações ao longo da Baía de Todos os Santos. 

A província da Bahia ficou sob controle dos rebeldes, que fizeram soar os sinos da Casa da Vereança anunciando a nova situação, que perdurou de 7 de novembro a 16 de março de 1838. 

As propostas revolucionárias de tomada do poder e formação de um novo governo, defendidas por  Francisco Sabino, foram disseminadas por Daniel Gomes de Freitas e Manoel Gomes Ferreira, este último responsável por sediar os encontros da revolta em sua casa. Outros encontros ocorreram também na praça da Piedade, em Salvador. 

Durante o período de tomada da Câmara Municipal, Sabino se tornou secretário do Governo da República Independente da Bahia recém formado pelos rebeldes, tendo nomeado seus parceiros para cargos importantes: Daniel Gomes de Freitas passou a ser Ministro da Guerra e Manoel Pedro de Freitas Ministro da Marinha. A liderança da revolta foi compartilhada com oficiais das milícias de cor e oficiais do exército que se ressentiam pelas reformas ocorridas em 1830, quando a  Guarda Nacional assumiu o papel de principal força de segurança na província. Mas apesar de todo esforço, a revolta não duraria muito. 

Sem muita demora, as forças legalistas reagiram, sob o comando de Crisóstomo Calado, cercando Salvador por terra e mar, de maneira a isolar os rebeldes, diminuir a expansão e a força da resistência. Os últimos combates foram travados de 13 a 16 de março de 1838, havendo um número elevado de locais incendiados e a morte de 2 mil pessoas. 

Com a caça aos rebeldes, Francisco Sabino seria preso em 22 de março e condenado à morte. O número de presos e expatriados chegou a 3.700. 

Apesar da condenação, com a coroação de Pedro II em 1840, foi concedida anistia aos rebeldes e Sabino teria sua pena reduzida ao degredo para a província de Goiás. Nesta província, o rebelde também viveria problemas com as autoridades, se deslocando para o Mato Grosso. Durante essa mudança adoeceu nos arredores da Fazenda Jacobina, em Cáceres (Mato Grosso), propriedade do Coronel João Carlos Pereira Leite, que lhe cedeu abrigo. Permanecendo nesta propriedade, Sabino veio a falecer em 1846, sepultado na capela da fazenda.

Antes de participar da revolta, a vida de Sabino teria sido marcada, segundo alguns registros, por eventos dramáticos. Ele  alcançou notoriedade em Salvador ao ser acusado pela morte de sua esposa, D. Joaquina Gonçalves em sua casa na rua do Castanheda. Segundo relatos, após ser perseguida com uma faca, Joaquina fraturou o braço ao cair da escada e veio a falecer de tétano. Foi igualmente acusado ainda na primeira metade da década de 1830 pelo assassinato do alferes Moreira, seu adversário e redator de um jornal rival. Em ambos os casos foi absolvido. Já em 1833, como professor substituto e tesoureiro da faculdade de medicina, Sabino foi convidado a prestar contas à congregação em virtude da descoberta de um desfalque, situação que foi levada ao conhecimento do governo da província. 

São poucas as menções e homenagens feitas ao líder da Sabinada, apesar da sua importante atuação. Em artigo da Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, de 1887, Sacramento Blake buscou apresentar Sabino como vítima de maldizeres e invejas, defendendo-o como um homem de merecimento. 

Em 1896, na expectativa de reabilitar a memória do “notável baiano tão mal apreciado”, o Instituto Geográfico e Histórico da Bahia trasladou os restos mortais de Sabino para Salvador. Também como forma de lembrá-lo, a antiga Rua da Marinha no centro histórico de Cáceres, foi rebatizada de Rua Dr. Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira.

 

(Bianca Novais Cambruzzi, graduanda do curso de História da Universidade Federal Fluminense e bolsista do Programa Bolsa de Desenvolvimento Acadêmico)

 

Fontes de referência para este texto:

AMARAL, Braz do. A Sabinada. História da Revolta da Cidade da Bahia em 1837. Revista do Instituto Geographico e Histórico da Bahia, 3 de maio de 1909, p.75-79.

KRAAY, Hendrik. “Tão assustadora quanto inesperado”: A Sabinada Baiana, 1837-1838, in: Dantas, Monica (org.). Revoltas, motins, revoluções: homens livres pobres e libertos no Brasil do século XIX. São Paulo: Alameda, 2011, p.501-527. 

LOPES, Juliana Serzedello Crespim. As cores da revolução: discutindo as identidades raciais na Sabinada (1837-1838). Salvador: Biblioteca virtual 2 de julho, 2013 (artigo online).

LOPES, Juliana Serzedello Crespim. Identidades Políticas e Raciais na Sabinada (Bahia, 1837-1838). 181f. Dissertação (Mestrado em História) Programa de Pós-Graduação em História Social, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.

MELO, Maria de Nazaré Santos; SANTOS, Maysa Leite Serra dos. SABINADA: o conflito regencial na bahia. Brazilian Journal Of Development, [S.L.], v. 7, n. 3, 2021, p. 23707-23724. 

REIS, Mirami Gonçalves Sá dos; KARIM, Taisir Mahmudo. A Constituição do Centro Histórico de Cáceres – MT: um acontecimento construído a partir de nomes de ruas. Línguas e Instrumentos Linguísticos, n. 41, Campinas: CNPq – Universidade Estadual de Campinas, Editora RG, 2018,  p. 138-161. 

REIS, João José. Rebelião Escrava no Brasil: a história do levante dos Malês em 1835. Ed. Revista e Ampliada, São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

Nascimento

1800Data atribuída
Brasil Província da Bahia (1821-1891)

Revolta

Origem Étnica

Comentários

  1. Marinete A. Nogueira disse:

    Vc ta de parabéns, pela boa pesquisa ,pelo bom trabalho que realizou,que honra saber de tudo isso. A família Amaral, fica muita grata.

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Como Citar

Sem Nome, "Francisco Sabino". Impressões Rebeldes. Disponível em: https://www.historia.uff.br/impressoesrebeldes/pessoa/francisco-sabino/. Publicado em: 28 de novembro de 2023.

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