Rebeldes / Personalidade

Francisco José das Chagas

  • Brasil
  • Província de São Paulo (1821-1889)

Biografia

Considerado um rebelde pelo governo da província de São Paulo no ano de 1821, Francisco José das Chagas, mais conhecido como Chaguinhas, foi de desordeiro a mártir. Informações  localizadas em raras fontes de época, como nas nas cartas  de 1° de agosto de 1821, reproduzidas por José Carvalho da Silva ( impressão da Typographia Nacional, Rio de Janeiro), descreviam Chaguinhas como cabo do 1º Batalhão de Caçadores da praça de Santos. Não há, até o momento, registro preciso sobre sua data de nascimento. Fontes indicam que ele nasceu na província de São Paulo e sua família possuía residência na Rua das Flores, atual Rua Silveira Martins, cidade de São Paulo. Numa quinta-feira, no dia 20 de setembro de 1821, Chaguinhas foi morto por crime de lesa majestade, ou seja, traição contra a pessoa do Rei, na atual Praça da Liberdade, em São Paulo. Muitas vezes retratado como um homem negro de pele retinta, sua história serve para ressaltar a identidade do povo negro.

Em junho de 1821, a cidade de Santos passava por grande instabilidade política. Os soldados do 1º Batalhão do Regimento de Caçadores da praça de Santos, ao qual Chaguinhas pertencia, estavam descontentes com o tratamento que recebiam e com o atraso no pagamento. Foi o estopim para iniciar a revolta. O levante militar começou na madrugada do dia 28 de junho de 1821 e prosseguiu até o dia 6 de julho. Os amotinados, comandados por Chaguinhas e pelo militar Joaquim José Cotindiba, incendiaram uma embarcação portuguesa e prenderam militares portugueses. Nota-se que o grande motivo da revolta era o acréscimo do soldo, de acordo com a patente.

Chaguinhas lutava para obter os mesmos direitos que já eram garantidos aos militares portugueses. No entanto, no dia 6 de julho, os ideais dos soldados foram postos abaixo, e seus direitos usurpados. João Carlos Augusto de Oyenhausen, governador da Província de São Paulo, enviou o Coronel Lazaro José Gonçalves e Daniel Pedro Muller, junto a homens do 2º Batalhão da capital, para controlar o motim em Santos. O 2o. Batalhão  de Caçadores de Santos também colaborou com a repressão. 

Os líderes da revolta, além de outros participantes, foram julgados e sentenciados. Francisco José das Chagas e seu companheiro de farda, Joaquim Cotindiba, assumiram a autoria dos atos e receberam pena capital. Ambos foram levados para o Largo da Forca, atual Praça da Liberdade, cidade de São Paulo, onde foram enforcados.

No momento de sua execução a corda da forca se rompeu por duas vezes, provocando o clamor popular em favor do militar, evento  que passou a ser conhecido como “o suplício de Chaguinhas”. Naquele instante  as pessoas  exclamaram ” milagre! “, pedindo a soltura imediata do cabo. Segundo a crença, o rompimento da corda era visto como um indício de sua inocência.

Considerado um mártir, Chaguinhas passou a ser cultuado como um beato no local onde foi enterrado, no bairro atual da Liberdade, em São Paulo. Conhecido como Cemitério dos Aflitos, ou Cemitério dos Enforcados, seu terreno era destinado ao sepultamento de indigentes, escravos que não pertenciam à Irmandade do Rosário e condenados à morte na forca. Em 1779, foi construído um santuário chamado Capela de Nossa Senhora dos Aflitos, localizado na Rua da Glória, onde passaram a ocorrer preces pela graça do soldado mártir. No interior da capela, é possível encontrar hoje em dia pedidos, velas e imagens de Chaguinhas. 

A história do soldado não é lembrada apenas na Capela dos Aflitos. A Câmara de Santos aprovou, no dia 4 de abril de 2024, o projeto de lei que inclui no calendário oficial da cidade a “Semana Chaguinhas”. O projeto atualmente aguarda a sanção do prefeito de Santos. Além disso, a Alesp (Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo), no dia 5 de outubro de 2023, realizou uma audiência pública para transformar Chaguinhas em patrimônio cultural imaterial da capital paulista. 

A devoção a Chaguinhas nos faz refletir sobre as possíveis causas de sua adoração. O fato de ter assumido toda a responsabilidade pelos atos e de não ter entregado seus companheiros de farda o tornaria, de acordo com saberes populares, um herói “digno” de sua beatificação. Nesse sentido, por ter salvo todos em prol do bem comum, seu culto se difundiu, tornando-se para alguns um símbolo de resistência e da identidade do povo negro.

 

(Sthefani Teixeira, graduanda no curso de História da Universidade Federal Fluminense, bolsista do Programa de Desenvolvimento Acadêmico)

Fontes de referência para esse texto:

Silva, José Carvalho da. “Santos 1º de Agosto de 1821. Quanto mais se vive mais se ve, e Cousas as mais estranhas, […]“. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1821.

SILVA, Flavia Calé da. O governo paulista de João Carlos Augusto de Oeynhausen (1819-1821). 2021. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.p. 71-80.

Comentários

  1. Gabriela disse:

    Maravilhosa esta biografia!

  2. Benedito de Oliveira disse:

    Como é bom ficar conhecendo nossos heróis pretos que são esquecidos por quem escrevem nossa história.

  3. Analu disse:

    Olá Chaguinhas hj eu fui visitar o local do acontecimento, eu te admiro muito , que Deus tenha te recebido c os braços abertos meu irmão , eu não sou negra , sou branca , mas isso não importa , alma não tem cor , e vc é meu irmão , e eu te amo .

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Como Citar

Sem Nome, "Francisco José das Chagas". Impressões Rebeldes. Disponível em: https://www.historia.uff.br/impressoesrebeldes/pessoa/francisco-jose-das-chagas/. Publicado em: 26 de setembro de 2024.

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