Ana Maria de Jesus Ribeiro, nascida por volta de 1821 em Laguna, na Província de Santa Catarina, filha de Bento Ribeiro da Silva e Maria Antonia de Jesus, tornou-se popularmente conhecida como Anita Garibaldi. Casada aos 14 anos com o sapateiro Manuel Duarte, seu primeiro marido, logo se separa, após ser alistado na Guarda Nacional do Império. Depois de se envolver nas lutas da Farroupilha nas províncias do sul, vive no Uruguai e na Itália onde participa dos conflitos em torno da Unificação Italiana, falecendo em 1849.

Aninha, como era apelidada pelos mais próximos, passou a ser chamada de Anita após conhecer Giuseppe Garibaldi, com quem seria casada por cerca de 10 anos. O encontro foi relatado no diário de Garibaldi, traduzido pelo escritor francês Alexandre Dumas. Ao chegar em Laguna a bordo do Itaparica, voltando seu olhar para a terra, o general guerrilheiro teria avistado Aninha dentre tantas outras mulheres e, especialmente atraído por ela, teria ido à sua casa após desembarcar. O italiano, nascido em 1807, chegou em Laguna em julho de 1839 como partidário da Revolução Farroupilha  para tomar a cidade, junto às tropas de David Canabarro e Joaquim Teixeira Nunes. 

Grande parte dos feitos da vida de Anita e seu companheiro são narrados por ele mesmo em suas Memórias. Pouco tempo depois de se conhecerem, ainda em 1839, Giuseppe recebe ordens para atacar embarcações com bandeiras imperiais no litoral brasileiro e Anita decide acompanhá-lo a bordo do navio Rio Pardo. Nos manuscritos de seu companheiro que narram as violentas batalhas navais, quando se encontram em desvantagem numérica, Anita foi descrita como dona de grande coragem.

Participando ativamente dos embates, empunhando armas e sendo ferida por balas, Giuseppe descreve seu receio de perder Anita e o incentivo da jovem ao encorajar os soldados a lutarem com bravura, durante o conflito travado em Imbituba (Santa Catarina). 

Anita, correndo os riscos de sua participação na campanha militar, chegou a ser feita de prisioneira quando os farroupilhas foram surpreendidos pelas tropas imperiais comandadas por Mello Albuquerque no confronto ocorrido na região de Curitibanos, próximo ao rio Marombas. Levada ao acampamento inimigo, foi induzida a acreditar na morte de Garibaldi e, obtendo permissão, foi ao campo de batalha procurar o corpo de seu companheiro, que não foi encontrado. 

Por algum descuido das tropas vitoriosas que faziam dela sua prisioneira, Anita teria conseguido fugir à noite, adentrando as matas e atravessando rios, de Curitibanos a Lages, chegando à região de Vacaria, onde reencontrou Garibaldi e a tropa do coronel Aranha, após oito dias de separação e angústia. Pouco tempo depois, em 16 de setembro de 1840, próximo a lagoa dos Patos, Anita daria à luz seu primeiro filho, chamado Menotti. Sendo obrigada a fugir mais uma vez, doze dias após o parto, Anita escapa a cavalo do ataque do capitão imperial Moringue e se refugia na floresta. Encontraria Garibaldi algum tempo depois. 

Já em meados de 1841, após tantos apuros, Anita muda-se com sua família para Montevidéu – Uruguai, após a dispensa de Garibaldi do exército republicano pelo general Bento Gonçalves da Silva. Neste lugar, depois de se casarem em 1842, viveram por cerca de três anos e tiveram mais três filhos: Rosita, Teresita e Ricciotti. Garibaldi atuou como professor de matemática e corretor de fazendas até ser novamente convidado a fazer parte da legião oriental como comandante do navio Constituição, envolvendo-se na guerra civil do Uruguai. 

Com a vida agitada, Anita se muda para a Itália em 1847 com seus filhos e Giuseppe chega alguns meses depois. Lutando junto à legião italiana, seu companheiro inicia uma série de ações militares, quando da luta pela independência do Reino de Sardenha contra o Império Austro-Húngaro (1848-1849) e na defesa da República de Roma contra os franceses (1849), chegando a ser acompanhado por ela em algumas ocasiões, mesmo grávida de seu quinto filho. 

Em julho de 1849, Anita, Garibaldi e milhares de homens se retiram de Roma, fugindo da perseguição francesa e austríaca; ao chegarem em San Marino, o exército foi dissolvido por Garibaldi. Anita, que já estava doente, sofreu uma piora em seu estado de saúde, vindo a falecer de malária em 4 de agosto de 1849, na Fattoria Guiccioli – Mandriole, aos 28 anos.

Em 1931, o governo italiano conseguiu que os restos mortais de Anita fossem sepultados no Gianicolo, em Roma, juntamente a um monumento construído em sua homenagem, onde é representada montada em um cavalo, que foi inaugurado em 1932. 

Descrita no diário de Garibaldi sempre destacando provas de coragem, montada a cavalo e combatendo os inimigos com destemor, Anita foi transformada em símbolo e convertida em heroína romântica, como seu marido. No Brasil, seu nome foi inscrito no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, através da Lei 12.615 de 30 de abril de 2012. 

O Museu Casa de Anita, em Laguna – sul do estado de Santa Catarina, foi criado como um espaço dedicado a relembrar a trajetória de Anita, apresentando móveis, utensílios pessoais e urna com terra da sepultura da rebelde. Em 25 de setembro de 2022 foi inaugurado um monumento em homenagem a Anita Garibaldi no Parque Pouso do Tropeiro, em Curitibanos – SC, semelhante ao de Roma. 

(Bianca Novais Cambruzzi, graduanda do curso de História da Universidade Federal Fluminense e bolsista do Programa Bolsa de Desenvolvimento Acadêmico)

Fontes de referência para este texto: 

DUMAS, Alexandre. Memórias de Garibaldi. Tradução de Antonio Caruccio-Caporale. Coleção L&PM POCKET. v.206. Porto Alegre: L&PM, 2011. p. 328.

RIBEIRO, Fernanda Aparecida. Anita Garibaldi coberta por histórias. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011, p. 225. 

RONCHI, Karinele. Mulher, companheira, heroína: as representações de Anita Garibaldi nos livros didáticos. Trabalho de conclusão de curso (Graduação em História) – Universidade do Extremo Sul Catarinense, Santa Catarina, 2014. 46f.