Arquivo Histórico do Escritório Técnico do IPHAN - Seção São João del-Rei - Processo-crime de Insurreição (1833), caixa PC 29-01
Nesse ofício o autor discorre sobre os acontecimentos da insurreição que mais tarde viria a ser conhecida como Revolta de Carrancas, ocorrida em 13 de maio de 1833, tomando como base os depoimentos dos escravizados presos. Informações como o planejamento da insurreição, participantes, líderes e o desenrolar dos fatos no dia da revolta são transmitidos ao presidente da província. O ofício também traz atualizações sobre a repressão do movimento nos dias que sucederam a insurreição, como a prisão de escravos participantes e os que faltavam prender. O documento, escrito em meio a uma disputa entre elites em Minas Gerais, dialoga com boatos e conflitos políticos que cercam o episódio de 13 de maio de 1833.
“Como V. Exa. me determinou em Off. de 18 do corrente que procure descobrir se houve plano em tal sucesso, e quais forão seus motores, e complices: eu passo a relatar a V. Exa. quanto pude obter pela confissão dos escrevos presos.”
“Dizem estes que hum escravo do Deputado Junqueira (...) a mais de hum anno os convoca p.ª insurriscionarem-se (...)”
“(...) e que vencidos, e mortos todos os brancos: Senhores os pretos do terreno, e riquezas se farião fortes para novas conquistas.”
“(...) o Chefe Ventura unido aos dois parsés, e mais tres derigirão se a rossa de Bella Crux, e reunindo-se a trinta e tres que alli se achavão marcharão p.ª caza, e assassinarão a seus Senhores (...)”
“(...) contarão que Francisco Silverio Teixeira (...) dissera á aquelle Ventura que os brancos de Ouro preto não querião captiveiro como os de cá (...)”
O autor do documento, Antônio Nogueira Freire, se dirige ao Presidente da Província deposto na Sedição de 1833 e, justamente por ser escrito no contexto dessa disputa pelo poder, o seu conteúdo reflete a conjuntura. O Juiz de Paz acusa os oponentes de espalharem boatos de alforria que resultaram em tentativas ou levantes deflagrados, como foi o caso de Carrancas. Outra marca presente na narrativa é a associação da revolta ao Haitianismo, revelando o medo presente entre as elites de uma insurreição escrava. Antônio Nogueira Freire destaca a liderança de Ventura da Mina, a organização e o planejamento dos ataques às fazendas e o número de escravos participantes do plano.
"Insurreição"
"Conspiração"
"Sedição"
Ofício Carrancas - 01 - Fotografia de Marcos Ferreira de Andrade - 2022
Ofício Carrancas - 02 - Fotografia de Marcos Ferreira de Andrade - 2022
Ofício Carrancas - 03 - Fotografia de Marcos Ferreira de Andrade - 2022
Ofício Carrancas - 04 - Fotografia de Marcos Ferreira de Andrade - 2022
Ofício Carrancas - 05 - Fotografia de Marcos Ferreira de Andrade - 2022
Ofício Carrancas - 06 - Fotografia de Marcos Ferreira de Andrade - 2022
Ofício Carrancas - 07 - Fotografia de Marcos Ferreira de Andrade - 2022
Arquivo Histórico do Escritório Técnico do IPHAN - Seção São João del-Rei - Processo-crime de Insurreição (1833), caixa PC 29-01
“Rebelião de 1833”. Revista do Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte, vol. 18, p. 87-89, 1913. Disponível em: http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/rapm/brtacervo.php?cid=628 . Acesso em: 09/05/2024.
5690, "Notícia dos desastrosos acontecimentos nas fazendas Campo Alegre e Bela Cruz". Impressões Rebeldes. Disponível em: https://www.historia.uff.br/impressoesrebeldes/documento/noticia-dos-desastrosos-acontecimentos-nas-fazendas-campo-alegre-e-bela-cruz/. Publicado em: 13 de maio de 2024.
Caro Luciano, Giovana e toda a equipe do Impressões Rebeldes!
Agradeço imensamente por divulgarem esse documento, de extrema relevância, em relação à Revolta de Carrancas. Inicialmente ele foi publicado em uma coletânea sobre a Sedição de 1833, em 1913, pelo Arquivo Público Mineiro. Esse documento passou despercebido da historiografia desde 1913. Somente em 1992 é que pude ter contato com o processo-crime, o documento mais importante da Revolta, através de um projeto de pesquisa de catalogação de fontes, do qual eu fazia parte como bolsista, na antiga Fundação de Ensino Superior de São João del-Rei, atual Universidade Federal de São João del-Rei. Foi a partir desse processo-crime que elaborei um projeto de pesquisa e que resultou na minha dissertação de mestrado. A partir de 1998/1999, iniciei um trabalho incansável para a divulgação da Revolta dos escravos de Carrancas para um público mais amplo. E Impressões Rebeldes tem sido um grande parceiro nessa empreitada. Tenho muito orgulho dos artigos que publiquei na Revista do IR, dividida em duas partes, “Massacre em Carrancas” e “Depois do Massacre”. E poder contribuir, mais uma vez, com a sugestão de divulgar a correspondência do Juiz de paz de Baependi, Antônio Nogueira Freire, dirigida ao presidente da província deposto, Manuel Ignácio de Melo e Souza, redigida no calor dos acontecimentos, é muito importante para os usuários do Portal IR conhecerem como o historiador constrói as representações do passado escravista.
Salve “o outro 13 de maio”!
Abraços!
Documentos valiosos!