Biblioteca Oliveira Lima, The Catholic University of America, Washington, D. C. ; Códice 11.
Em São Luís do Maranhão na primeira metade do século XVII, a falta de soldados, os fortes debilitados e outros problemas locais facilitam a ocupação holandesa na região norte. Os holandeses ampliam seus territórios em direção ao norte da América portuguesa, tendo como justificativa a demora do rei português em ratificar o tratado de trégua de 1641 entre Portugal e os Países Baixos. Os luso-maranhenses reagem lutando contra os holandeses.
“(…) sendo tratados pelo s.or Rey dom Joao enquanto cem os s.ors dos Estados gerais[?] e pelo dito s.or Rey avisados recebemos em nossos portos seos navios e [vasallos] e debaixo destas [pases](…)”;
“(…) os quebrarão e os naõ quizeraõ cumprir em nada mas antes nos obrigaraõ [ilegível] vassalagem ao s.or príncipe de Orange. tomando lhe suas armas (…)”;
“(…) os quais os ditos s.ors lhe aseitaraõ todos[?] sairaõ com hú papel q’ tinhaõ feitto, muito diferente dos [ditos] capítulos e a sua vontade e nos fez naõ[?] asinar a forca tendo todo seu exercito posto [ilegível] e entre as [cauzas] q’ continha”.
Exposição do tabelião Manuel Gonsalves da Cunha narrando a instalação dos holandeses no Maranhão e queixando-se abertamente da forma pouco amistosa como ocorreu, pois foi violada a cordialidade com que outrora foram ali recebidos pelos portugueses. O discurso do autor mostra não só a violação do tratado de trégua entre Portugal e Países Baixos mas que, com a expansão holandesa para a região norte, os moradores da cidade de Itapecuru sofreram inúmeras injustiças por parte dos flamengos, desde saques e ameaças em suas fazendas à violação de suas mulheres. Fica evidente também a insatisfação dos moradores das cidades locais com relação às ações holandesas indiferentes às tradições religiosas da população.
Nesse documento – escrito 15 dias depois da sublevação – o autor responde ao conselheiro holandês no Maranhão ocupado sustentando a sublevação que, no final de setembro, fizeram os senhores de engenho locais tomando o forte.
É possível perceber nos artifícios da narrativa uma das primeiras construções discursivas para justificar perante o rei de Portugal a conspiração no Maranhão para expulsar os holandeses, à revelia de Portugal, que esperava os trâmites do tratado de paz com os Países Baixos. Alguns anos mais tarde, os Pernambucanos elaboraram o mesmo tipo de discurso para justificar a guerra contra os holandeses.
“protesto
“framengos”
“naõ quizeraõ cumprir“
“injuras framengua“
“roubos”
“tomando lhe seus livros e servos”
“nossa gente portugueza q’ tem prezo e violentada”
“comessaraõ geralm.te a molestar”
“os obrigaraõ e forcaraõ”
“naõ sesando de nos ameasar”
“queixaraõ”
“lhes faziaõ força a suas mulheres”
“tratarão de nos degolar”
"armas"
"injustiças"
Biblioteca Oliveira Lima, The Catholic University of America, Washington, D. C. ; Códice 11.
Manuel Gonsalves da Cunha, Array, , "DENÚNCIA CONTRA AS VIOLÊNCIAS DOS HOLANDESES DURANTE A RESTAURAÇÃO DO MARANHÃO, 1642". Impressões Rebeldes. Disponível em: https://www.historia.uff.br/impressoesrebeldes/documento/denuncia-contra-as-violencias-dos-holandeses-durante-a-restauracao-do-maranhao-1642/. Publicado em: 31 de maio de 2022.