Revoltas

Levantes indígenas contra senhores de engenho

Capitania de São Tomé (1536 – 1619)Campos dos Goytacazes

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1546 / 1546

“Puris nelle loro foreste”. A gravura de Paolo Fumagalli mostra alguns Puris, grupo indígena que habitava o norte fluminense, andando pela mata com utensílios e armas. Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo

Em reação à expansão generalizada do cativeiro dos povos originários e à conquista de terras, ampliaram-se os conflitos e os levantes contra os colonos que conquistaram a Capitania da Paraíba do Sul – localizada entre a Capitania do Rio de Janeiro e a do Espírito Santo. Próximo dos principais povoados coloniais, indígenas até então considerados aliados reagem a partir de 1546 destruindo as propriedades e inviabilizando a produção.

A Capitania da Paraíba do Sul, cujo donatário Pero de Góis a recebeu de D. João III por serviços concedidos à monarquia portuguesa, foi palco de violenta e repentina reação. Os indígenas levantados mataram vinte e cinco colonos, além de queimarem diversas plantações de cana-de-açúcar e roubarem artilharias de portugueses, deixando as fazendas devastadas.

Implementado em 1534, o sistema de capitanias hereditárias pretendia firmar os donatários como agentes políticos da coroa e estabilizar o projeto colonizador no Brasil. Contudo, na medida que se intensificava a convivência entre indígenas e colonos, os nativos se mostravam cada vez mais insatisfeitos, protagonizando violentas rebeliões.

A situação de Pero de Góis é testemunha dessa tensão, sofrendo ataques por parte dos indígenas desde sua chegada na Capitania da Paraíba do Sul. Com isso, o estabelecimento dos engenhos e o avanço da colonização foi bem mais lento em relação às outras capitanias. Apesar de seus esforços em obter sucesso na Capitania da Paraíba do Sul, Pero retorna para Portugal em 1570. As terras ficaram abandonadas, até que Gil de Góis tomou posse da região em 1626.

Tais ataques indígenas tiveram efeitos devastadores nos primeiros anos da colonização, expressando a capacidade de resistência dos nativos. Os constantes conflitos gerados pelos indígenas eram um reflexo das novas relações estabelecidas com os colonos. A destruição do ecossistema, a escassez de alimentos, uma convivência hierarquizada, a disseminação de doenças contagiosas e a apropriação de terras e riquezas naturais, contrariavam por completo a forma de viver das sociedades nativas.

Por essas razões, revoltas foram constantes durante o processo de formação das capitanias hereditárias, assim como as tentativas de controle e repressão, expressos no Regimento de 1548 e na fundação de um Governo-Geral na América Portuguesa.

Os registros documentais sobre esses episódios são escassos, por vezes criando a sensação equivocada que eram revoltas insignificantes. Ao contrário,  a resistência e as rebeliões dos povos originários nesse período causaram impactos incalculáveis à produção e ameaçaram a continuidade do projeto colonial de Portugal no Brasil.

 

(Isabel Macedo, graduanda do curso de História da Universidade Federal Fluminense e bolsista de iniciação científica PIBIC – CNPQ)

Ações de protesto não-violentas

  • Roubo de armas e munição

Ações de protesto violentas

  • Destruição de propriedade
  • Morte de inimigos
  • Queima de plantações

Bibliografia Básica

METCALF, Alida C. Os papéis dos intermediários na colonização do Brasil 1500-1600. Campinas, SP: editora Unicamp, 2019. p.282

PARAISO, Maria Hilda B. Revoltas Indígenas, a criação do governo geral e o regimento de 1548. CLIO: Revista de Pesquisa Histórica, no. 29.1, 2011.

PARDO, Aristides Leo. Não foi nada fácil: A tardia colonização portuguesa e a resistência dos índios goytacazes na capitania de São Tomé. Sobre ontens. v.2012, p. 01 – 15, 2012.

SILVA, P. R. P. e PARANHOS, Paulo . Controvérsias sobre os primeiros tempos da Capitania de São Tomé. Revista da ASBRAP, São Paulo, v. 6, n.1, p. 93-100, 1999.

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