AHU-ACL-N- Rio de Janeiro [projeto resgate]
Rio de Janeiro, ano seguinte ao da punição aos inconfidentes mineiros. Insatisfação com o governo do vice-rei.
“(...) eu devia entrar nesta indagação guardando a forma prescrita por Sua Majestade para a comissão de que fui encarregado sobre a sublevação da Capitania de Minas (...) por ser este caso de idêntica natureza, e ter uma grande conexão com o primeiro”
“(...) se teria sido fabricada nesta cidade, o que me parecia ter mais probabilidade, e que talvez o mesmo Juiz de Fora fosse o autor dela”
“(...) não é natural que houvesse na Corte de Lisboa um homem tão insensato e ocioso que se lembrasse de escrever uma carta em matéria tão melindrosa e arriscada, sem que houvesse de esperar que dela resultasse algum efeito (...) que nenhum homem que tivesse senso comum podia esperar”
“Além de que não podia haver um homem tão fátuo que seriamente escrevesse aquela carta (...) que é uma quimera cheia de contradições”
“Um Juiz de Fora terá autoridade na terra com arte e eloquência para fazer suspeitosa a fidelidade de pessoas de maior graduação, de quem Sua Majestade confia o governo; e sujeitar-se-ia o povo, a tropa, os Ministros, e o clero a serem governados por um Juiz de Fora, e uma câmara composta de uns homens, que nem entendem o seu regimento?”
“Por estas razões me parece a dita carta uma quimera inventada com outro fim, e interesse particular bem diferente daquele que se manifestava; e que por esta causa a carta não tinha vindo da corte, mas que tinha sido forjada nesta terra.”
“(...) para ver se algum deles reconhecia a letra, tendo a cautela de lhe não deixar ler a carta, por me parecer que não era justo que se vulgarizasse e excitassem infames idéias, que entendo não há na imaginação de pessoa alguma desta cidade”
“O Juiz de Fora desta cidade, Baltazar da Silva Lisboa, é natural da cidade da Bahia, tem talento superabundante para conceber e produzir as idéias que se encontram na dita carta (...) o seu gênio é pouco inclinado ao sossego, tendo-se implicado em disputas, algumas delas desnecessárias, não só com alguns ministros desta relação, mas até com os vice-reis (...) e tem toda a resolução e animosidade para pôr em prática as lembranças que lhe ocorrerem se lhe parecer que lhe podem ser úteis”
“Soube o dito Juiz de Fora que nos navios que deste porto saíssem para essa Corte (...) se dirigiam a Sua Majestade várias representações contra ele, e temeu que especialmente aquelas que fossem feitas pelo vice-rei merecessem maior contemplação; com a dita carta (...) poderia talvez parecer-lhe que moderava o mesmo vice-rei, não só justificando com aquela denúncia a sua fidelidade a Sua Majestade, mas também o afeto a pessoa do vice-rei”
“(...) tirar da apresentação da dita carta (...) o partido de se bemquistar e congraçar com o vice-rei”
Os argumentos são expostos de maneira a culpabilizar Silva Lisboa pela carta. Ressaltando-se sua condição de magistrado imerso em conflitos, afirma-se ser bastante provável que tenha escrito a carta. Ainda que não se façam afirmações contundentes, afirma-se a obrigação – por se tratar de assunto delicado – de expor mesmo suspeitas, “posto não tenham grau de probabilidade”. Fazendo suposições, tenta demonstrar como o Juiz de Fora poderia se beneficiar da situação. Interessante a grande articulação e dissimulação que é atribuída a Silva Lisboa.
“infame autor”
“abominável carta”
“insensato”
“ocioso”
“melindrosa e arriscada”
“farsas”
“fátuo”
“quimera”
"apoderar-se do governo em nome de Sua Majestade”
“fazer suspeitosa a fidelidade”
“autoridade na terra”
"eloquência"
"sujeitar-se"
"inventada com outro fim"
“dissimuladamente”
"suspeitar"
"cautela"
"segredo"
"vulgarizar"
"infames ideias"
"disfarçada"
"conceber e produzir ideias"
"pouco inclinado ao sossego"
"disputas"
"animosidade"
"contradições"
"imprudentes"
AHU-ACL-N- Rio de Janeiro [projeto resgate]
Revista do IHGB, tomo LXV, parte 1ª, p. 255-564.
Sebastião Xavier de Vasconcelos Coutinho, Array, , "CARTA DO CHANCELER DA RELAÇÃO SOBRE A CARTA ANÔNIMA". Impressões Rebeldes. Disponível em: https://www.historia.uff.br/impressoesrebeldes/documento/carta-do-chanceler-da-relacao-sobre-a-carta-anonima/. Publicado em: 16 de maio de 2022.