A segunda metade do século XVIII foi marcante para o sistema colonial português. O liberalismo que varria a Europa propagava-se no Novo Mundo e, na América Portuguesa, fazia estragos nos alicerces do Antigo Regime. Pairava no ar o temor de um levante ou uma revolta, tanto no pensamento da elite colonial, quanto na da população em geral.
Um episódio no Rio de Janeiro destaca-se em meio à conjuntura de conspirações e planos políticos que agitam o fim do século. O juiz de fora Baltazar da Silva Lisboa apresenta uma carta anônima sobre um possível atentado a vida do até então Vice-Rei Conde de Resende.
A missiva, sem remetente ou endereço, defendia que era preciso liquidar o Vice-Rei para que o Brasil pudesse crescer livre de Portugal, com a ampliação da autonomia e o fortalecimento das tomadas de decisão das câmaras.
Além disso, a carta argumentava a necessidade do Brasil reagir a essa nova conjuntura que a Europa estava passando, onde novos Impérios surgiam e os Antigos reagiam através de um aumento de poder sobre as suas colônias.
O juiz de fora envia essa carta a Chancelaria do Tribunal da Relação para ser analisada. Ao descobrir a existência dessa carta o Vice-Rei, no dia 14 de Janeiro de 1793, ordena uma devassa que alcança o próprio Baltazar da Silva Lisboa.
A devassa foi executada pela mesma Junta que trabalhou no caso da Inconfidência Mineira. Depois de 24 dias de investigação, através de estudos de caligrafias, interrogatórios e análises da trajetória das correspondências, o caso foi encerrado sem se saber quem a escreveu ou se era verídico seu conteúdo.
Conjuntura e contexto
Circulação de ideias liberais no Brasil.