Revoltas

Revolta dos Mascates

Capitania de Pernambuco (1534 – 1821)Recife

Início / fim

1710 / 1711

Data aproximada
Ilustração do xilógrafo Ítalo Henrique - Disponível em: http://italoilustra.blogspot.com/2011/01/xilogravuras.html

No alvorecer da segunda década do século XVIII, eclode em Pernambuco um conflito explosivo entre as cidades de Olinda e Recife. A primeira, dominada em grande parte por uma elite latifundiária, tinha sua principal atividade baseada na produção e venda de açúcar. O declínio desse produto resultou na crescente dependência, por parte dessa elite, em relação aos comerciantes do Recife que, em sua maioria portugueses, estavam engajados em atividades mercantis realizando empréstimos com juros altos.

Dado o desenvolvimento econômico paulatino do Recife, os comerciantes, que também eram intitulados “mascates”, recorreram à Coroa portuguesa solicitando sua emancipação e o título de Vila, pois até ali eram um povoado periférico à Olinda, principal cidade pernambucana.

A Coroa concedeu o pedido autorizando a criação de uma Câmara Municipal em Recife que, em 1710, foi inaugurada junto ao Pelourinho, elevando-a à condição da cidade e, por conseguinte, oficializando a separação de Olinda. A situação não foi bem recebida pelos senhores de engenho olindenses que, revoltados com a elevação do Recife e temendo a perda de sua condição de superioridade política em Pernambuco, invadiram a localidade depredando tanto a Câmara quanto o Pelourinho.

A destruição dos prédios e a invasão do Recife ocorreram quando forças lideradas pelo Capitão-mor Pedro Ribeiro da Silva,organizados em Vitória de Santo Antão, se somaram às que se encontravam em Afogados, vindas de São Lourenço e Olinda, sob liderança de Bernardo Vieira de Melo e seu pai, o coronel Leonardo Bezerra Cavalcanti.

Além de destruir os símbolos da cidade, tinham como objetivo perseguir e prender os aliados do governador Sebastião de Castro Caldas Barbosa, visto por eles como aliado dos mascates e sendo considerado contrário aos nobres da terra, como os senhores rurais de Olinda se reconheciam. Durante o conflito, o governador foi ainda alvo de um atentado, na tarde de 17 de outubro de 1710, quando se encaminhava para o palácio do governo após a ladainha dos sábados na igreja do convento da Penha. Foi surpreendido na rua das Águas Verdes por três homens emboscados que dispararam cerca de cinco ou seis tiros, que não atingiram seus órgãos vitais. Soldados saíram na busca mas não alcançaram os responsáveis.

Não houve respostas oficiais quanto ao autor intelectual do atentado, mas a hipótese levantada foi a de que Leonardo Bezerra, que se encontrava preso mas não conseguia ser solto pelos meios ordinários da justiça, mandou que atentassem contra o governador. O ato não foi apenas uma atitude desesperada do coronel, mas também uma tentativa frustrada de afastar o governador do poder.

Ciente dos riscos, Castro e Caldas se encaminhou para a Bahia, deixando o poder nas mãos do bispo Manuel Álvares da Costa.

Esses episódios ocorreram em 1710. O contra-ataque dos mascates aconteceria no ano seguinte, em 1711, com a invasão da cidade de Olinda e destruição de algumas Vilas, plantações e engenhos da região. Diante desses conflitos, a Coroa começou a Golpista por uma desestabilização de seu poder e enviou um novo responsável para a ocupação do cargo de governador: Félix José de Mendonça, considerado de atitudes mais equilibradas e capaz de superar o impasse entre mascates e nobreza. Também foram mandados o ouvidor geral Dr. João Marques Bacalhau e o juiz de fora Dr. Paulo de Carvalho, além de tropas para contenção da revolta.

Naquele momento, antes mesmo de encontrar os responsáveis pelas sublevações, era necessário resolver os conflitos. Dois dos principais objetivos dos recém enviados eram exigir dos recifenses a entrega de uma das fortalezas e, dos olindenses, a cessação do cerco à Recife. Buscava-se repor as coisas da maneira em que se encontravam antes do levante da nobreza e também da fuga de Castro e Caldas. O governador e sua comitiva não conseguiram contornar as exigências, visto que os olindenses reivindicavam que o governo ficasse sob responsabilidade do prelado, enquanto os mascates apoiavam a entrega da cidade ao governador Félix Mendonça.

Recife permaneceu sitiada por meses e o clima de tensão era pesado.

Com a prisão dos líderes e a consolidação da autonomia de Recife em relação à Olinda o conflito acabou. Em 1712, Recife foi elevada à sede-administrativa de Pernambuco, sua Câmara e Pelouro foram reconstruídos e os sediciosos da nobreza de Olinda receberam perdão concedido pelo bispo. No ano de 1714, D. João V concedeu anistia a todos os envolvidos na sublevação. Além disso, concedeu ainda aos senhores de engenho de Olinda o privilégio da manutenção de suas plantações e perdão de suas dívidas, em troca de paz.

Fica evidenciado que o conflito marcou nitidamente a conquista política da mascataria em contraponto aos nobres da terra. O Governador Félix José Machado ficou no governo até 1715, passando o cargo a D. Lourenço de Almeida. Feito isso, Pernambuco viveu tempos de relativa paz, até a conspiração dos Suassunas, que ocorreria em 1801.

Esse texto e as informações sobre o documento [Capitolos Primeiros Que fizerao os levantados de Pernambuco] disponíveis no site Impressões Rebeldes são de autoria de Douglas Bandeira, Mariane Figueiredo, Rógger Manoel, Tainá Cristina e Thayara Cristina, alunos do curso de graduação em História da UFF. Trabalho realizado para a disciplina “Revoltas e Revoluções na Época Moderna: Europa e Brasil Colônia” no 2º semestre de 2015.

Conjuntura e contexto

A revolta se deu em meio a uma conjuntura econômica de ascensão do poder econômico dos comerciantes de Recife e declínio e endividamento dos senhores de engenho de Olinda. A elite açucareira de Pernambuco se encontrava com grandes dificuldades econômicas devido a queda no preço do açúcar no mercado internacional motivada pela concorrência com o açúcar produzido pelas novas colônias holandesas. Nesse cenário, os senhores de engenho de Olinda contraíram grandes dívidas com os comerciantes do Recife que estavam financiando suas atividades açucareiras.

Ações de protesto não-violentas

  • "Viva el rei"
  • Palavras de Ordem

Ações de protesto violentas

  • Agressão de Autoridade
  • Batalhas e combates
  • Cerco e destruição de cidade ou vila
  • Invasão de cidade ou vila
  • Morte de inimigos
  • Prisão de autoridade
  • Saques a casas e armazéns
  • Tomada da Capitania

Repressão

Contenção

  • Envio de autoridade
  • Prisões

Punição

  • Não informadas

Bibliografia Básica

BOXER, Charles Ralph. A Idade de Ouro do Brasil: dores de crescimento de uma sociedade colonial (1695-1750). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.

CALMON, Pedro. História social do Brasil. 3° volume. Cia. Editora Nacional. 1943.

MELLO, Evaldo Cabral de. A fronda dos mazombos: nobres contra mascates, Pernambuco, 1666-1715 / São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

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