Revoltas

Conspiração escrava

Capitania de Pernambuco (1534 – 1821)Ilha de Fernando de Noronha

Início / fim

1652 / 1652

Data aproximada
O passado colonial do belo arquipélago de Fernando de Noronha - PE resiste nos antigos fortes e na memória da luta de resistência dos escravizados. Forte Nossa Senhora dos Remédios construído em 1737, tombado como monumento nacional pelo IPHAN. Fonte: Instituto Biapó.

O arquipélago de Fernando de Noronha, em Pernambuco, foi palco, no século XVII, de uma tentativa de escravos para se livrarem  do domínio senhorial. Revoltados com a fome e a violência extrema provocadas pelos colonos portugueses que ocupavam o território, um grupo de escravizados tramou um plano para assassinar os administradores coloniais. Uma delação, feita por um dos conspiradores às autoridades da ilha, provoca a pronta ação repressiva. Ao final do processo, escravizados seriam condenados à morte.

Em 1652, a administração da Ilha de Fernando de Noronha, antes feita pelos holandeses, que ocupavam Pernambuco desde 1630, passou para os colonos portugueses. Estes eram bem mais rígidos com os escravos do que a Companhia das Índias Ocidentais. Alguns anos antes do evento havia noventa e sete escravos habitando a ilha, africanos e crioulos (escravizados nascidos no Brasil) batizados e com família,  segundo registros.  

A situação de penúria, de fome extrema e violência imposta pelos colonos sobre esses escravizados levou um grupo a conspirar. Eles se reuniram e planejaram um ataque surpresa à noite para assassinar os brancos. Segundo as escassas informações nas poucas fontes conhecidas até o momento sobre o caso, seu objetivo era “se fazerem mestres de si”, isto é, se livrarem dos senhores e da escravidão. Mas o plano é delatado por um dos escravos e nove dos rebeldes considerados cabeças da sedição são presos e levados a Recife para serem julgados pelo Conselho de Justiça.

No Recife, seis dos nove rebeldes foram condenados à morte com execução exemplar. Sob a permanente tensão do regime escravista, demonstrações públicas da morte de escravos rebeldes tentavam oferecer um exemplo extremo que causasse temor e evitasse novas inquietações. Por isso, houve um cuidado muito bem calculado para escolher os locais de execução. Buscou-se para a punição dos líderes da conspiração regiões que concentravam alto número de cativos. Dois líderes escravos foram enviados presos para Recife, dois para Itamaracá e dois para a Ilha de Noronha, todos executados, “para que o castigo servisse de exemplo”. Sabe-se ainda de outros detalhes macabros: três deles foram mutilados ainda vivos e três quando estavam mortos. Um dos suspeitos foi absolvido pelo Conselho de Justiça e enviado à Ilha de Fernando de Noronha para ser interrogado novamente (não há informação sobre um dos nove escravizados condenados). O escravo que delatou o plano aos brancos recebeu alforria e uma remuneração.

(Wictória Peixoto, graduanda no curso de História da Universidade Federal Fluminense, bolsista PIBIC – CNPq)

Antecedentes

Durante o período da ocupação holandesa no nordeste, entre 1630 e 1654, a expansão da produção de gêneros e a necessidade de garantir a segurança das costa de Pernambuco levou os holandeses ao controle da Ilha de Fernando de Noronha. A administração da ilha era feita pela Companhia das Índias Ocidentais mas, após perderem a Batalha dos Guararapes (1645-1649), os portugueses passaram a reger o arquipélago. 

Conjuntura e contexto

Em 1640 a União Ibérica chega ao fim graças à Restauração. Este movimento significou o retorno da autonomia política de Portugal, agora sob a dinastia dos Bragança, em relação a Espanha. Desde 1645, as dificuldades financeiras da administração holandesa em sua expansão pelo Atlântico e Índico se somam à mobilização dos luso-pernambucanos que se levantaram contra os ocupantes em busca de sua expulsão. 

Números da Revolta

Aproximadamente 1 mês de duração
30 participantes
6 condenados
6 executados

Tipologia

Reivindicações

Soberania

A revolta foi interrompida pelas seguintes razões

Ações de protesto não-violentas

  • Reuniões em lugares privados

Ações de protesto violentas

  • Ameaça de assassinato aos senhores

Repressão

Contenção

  • Prisões

Punição

  • Enforcamento
  • Esquartejamento
  • Exposição dos quartos e da cabeça

Instâncias Administrativas

  • Conselho de Justiça

Bibliografia Básica

GALINDO, Marcos. Viver e morrer no Brasil holandês. Recife: Massangana, 2005, p. 34-38.

RODRIGUES, Gefferson. Escravos, índios e soldados: povo, política e revolta na América portuguesa no século XVIII (Pernambuco, Minas Gerais e Bahia). Tese (Doutorado em História) – Universidade Federal Fluminense, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Niterói, 2015. p. 157.

SANTOS, Manuel dos. Narração Histórica das Calamidades de Pernambuco. RIHGB, t. 53, Parte 2, 1890.

SILVA, Kalina Wanderlei. O miserável soldo e a boa ordem da sociedade colonial: militarização e marginalidade na Capitania de Pernambuco dos séculos XVII e XVIII. Recife: Fundação de Cultura Cidade do Recife, 2001.

Comentários

  1. Mariana disse:

    Excelente texto! Obrigada pelos esclarecimentos.

  2. Hermínia M. T. Castro disse:

    Muito bom. A história oficial tem registros muito precários da mobilização e luta de escravos pela liberdade e posterior inclusão na sociedade. Levantamentos assim ajudam a reescrever a história da escravização no Brasil.

  3. Giselle Oliveira disse:

    Excelente trabalho, ansiosa para ler os desdobramentos da pesquisa.

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