Data: 20/03/2019

Encontro com a história – Museu de Astronomia

Materialidade e interpretação de manuscritos e impressos da Época Moderna

Rua General Bruce, 586 | São Cristóvão | Rio de Janeiro

20
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2019

As análises de fontes históricas têm sido enriquecidas nos últimos anos a partir de um novo olhar sobre os diferentes suportes e as características materiais dos documentos. Não raro, eles guardam vestígios que auxiliam as investigações. O objetivo desta mesa é debater os desafios e percursos de pesquisas que exploram aspectos ligados à materialidade dos documentos, e como essas características se relacionam com interpretações textuais e visuais. O grupo Metamorphose, recém criado no CNPq, visa estimular assim a pesquisa histórica.

A universalidade científica e a particularidade do passado autêntico: sobre os modos de visualização do conhecimento iluminista

André de Melo Araújo | UnB

Qual o valor das evidências pictóricas para o conhecimento histórico setecentista? Em que medida a natureza predominantemente coletiva da produção de imagens impressas neste período pode apresentar pontos de contato entre os modos de visualização do conhecimento relacionado às ciências da natureza e aquele dedicado à investigação do passado? Estas questões orientarão a análise material de gravuras e desenhos por meio dos quais artistas e calígrafos (re)produziram evidências pictóricas que conformam a base documental da Historia genealogica dominorum Holzschuherorum, coordenada por Johann Christoph Gatterer e impressa por Johann Joseph Fleischmann em 1755. O estudo deste caso particular abre espaço para se discutir como a universalidade científica e a particularidade do passado autêntico se deixam representar imageticamente no século das Luzes.

Pergaminho, papel e caminho: itinerário e cultura material no Livro das fortalezas

David Martín Marcos | Universidad Nacional de Educación a Distancia, Madri

É um lugar comum afirmar que a fronteira que separa a Espanha de Portugal – a raia – é a mais antiga da Europa. Mas esta afirmação é pouco procedente, se olharmos para as delimitações geográficas do passado de uma perspectiva estadualista. Em 1509 Duarte de Armas realizou um dos trabalhos de representação gráfica mais célebres da raia luso-hispana: o Livro das fortalezas, do qual se conservam na atualidade dois exemplares, um em pergaminho, no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa, e outro em papel na Biblioteca Nacional de Espanha, em Madri. Na década de 1640, num momento de especial afirmação para Portugal, foi feita uma cópia menos detalhada – porém mais rica em materiais – pelo escrivão Brás Pereira. A partir de uma viagem feita em 2018 reconstruindo o percurso de Duarte de Armas, se reflexionará aqui sobre os usos das imagens e a representação da paisagem como formas de apropriação do território.

A natureza e as fábulas no Discurso historico, e políticsobre a revolta de Vila Rica

Rodrigo Bentes Monteiro | UFF

As interpretações do documento acerca da sublevação de 1720 ocorrida na capitania de São Paulo e Minas do Ouro, impresso pela primeira vez em 1898, tenderam até então a priorizar o seu aspecto político. Mas seu texto, referenciado pelas notas marginais presentes no códice de origem e calcado sobretudo na etiologia de Ovídio, descreve um mundo onde os quatro elementos primordiais conformam a natureza, os homens e suas ações. Também pautadas por leituras clássicas, fábulas envolvendo deuses e heróis encontram-se mescladas à história política dos fatos. Assim a análise textual, em coerência aos exames material e visual e à investigação sobre a trajetória do códice, o caracteriza como tendo sido produzido para a recepção em âmbito familiar, na casa nobre de Assumar/Alorna.

20 de março de 2019, 14 h | Museu de Astronomia e Ciências Afins