W.E.B. Du Bois

William Edward Burghardt Du Bois nasceu em 23 de fevereiro de 1863, em Massachusetts, filho de Mary Burghardt e Alfred Du Bois. Ambos vieram de famílias de ascendência europeia (neerlandesa e francesa, respectivamente) e sua ascendência africana remonta aos libertos do Norte do atual território dos EUA. William Du Bois nasceu e cresceu em Great Barrington, numa pequena comunidade negra. Entre negros e brancos o jovem William teve uma criação de relativa paz em comparação ao Sul dos EUA, embora tivesse sofrido alguns casos de racismo, como aponta em suas autobiografias. Apesar disso, vivia em uma comunidade integrada, que o ajudou financeiramente a alcançar a universidade.

 Em 1885, Du Bois passou a estudar na Fisk University, no Tennessee, estado do Sul dos EUA, onde enfrentou pela primeira vez o racismo escancarado e legalizado dessa região. Políticas de segregação, boicote de votos dos negros, crescimento da população carcerária e da criminalidade pela impossibilidade de desenvolvimento pessoal eram características vivenciadas por Du Bois em seus anos de universidade, algo que marcou bastante sua vida, sua escrita e seu caminho acadêmico. 

Du Bois também estudou nas universidades de Harvard e Berlim, e garantiu seu doutorado ainda antes da chegada do século XX por meio de estudos que são considerados pioneiros no estabelecimento da sociologia enquanto ciência.. Bastante envolvido politicamente com o avanço do povo negro pelo mundo, Du Bois foi figura central na promoção de movimentos e organizações negras como o NAACP (National Association for the Advancement of Colored People – Associação Nacional para o Avanço do Povo de Cor, em tradução livre), fator determinante para sua produção intelectual, sobretudo durante os 25 anos em que esteve à frente da revista Crises. W.E.B. foi um prolífico intelectual e acadêmico, tendo escrito mais de vinte produções não literárias. Sua principal obra, As almas do povo negro (1903), estabeleceu uma das maiores contribuições à sociologia, afirmando que a questão central do século XX, seria o problema da linha de cor. 

Ao discorrer sobre a luta e a vida do povo negro no pós-Abolição, Du Bois desenvolveu dois conceitos centrais: véu e dupla consciência. Segundo W.E.B. Du Bois, o negro norte-americano é um ser cindido e coberto por um véu ideológico. Essa cisão divide o negro entre ser negro e ser cidadão, e essa dupla identidade faz a manutenção do “não ser” negro, uma vez que o negro, em comunidade, não possui uma unidade. O véu representa o preconceito, a exclusão e a marginalização que recebe da sociedade, algo que preenche todos os aspectos da vida social nos quais o racismo se faz presente. 

A partir dessas noções, entende-se que a agência negra liberta não se concretiza apenas na busca por educação, intelectualidade, ascensão social e trabalho em uma sociedade na qual essa cultura do véu ideológico permanece, como na cultura do povo estadunidense, que não aceita nem a inclusão e muito menos o fim das desigualdades raciais existentes. Outras marcas importantes da ação política de Du Bois são o socialismo e o pan-africanismo. Ainda no início de sua trajetória intelectual, Du Bois assumiu as ideias socialistas. Simpatizou com o marxismo até o fim de sua vida, mas sempre com críticas relacionadas ao perigo da negligência da questão negra para o processo revolucionário e internacionalista. Essa preocupação é mais amplamente demonstrada com a sua atuação no movimento pan-africanista. 

William Du Bois é considerado patrono do pan-africanismo, principalmente por endossar a centralidade da questão de cor e a importância da unidade africana e afrodiaspórica a partir da tomada de consciência racial, do orgulho da cor, da solidariedade e da união às lutas raciais por direitos civis e libertação nacional. W.E.B. faleceu aos 95 anos em Acra, Gana, em 1963. Atualmente é considerado um dos mais importantes intelectuais do século XX