Data: 06/11/2015

Exposição Sob o signo de Luís XIV

Por Rodrigo Bentes Monteiro

06
nov
2015

Os livros vêm de Paris. No dia 1 de setembro de 1715, Luís XIV, le Roi Soleil, morreu em Versalhes, aos 76 anos. Terminava assim um dos mais longos reinados da história da Europa, que favorecera a afirmação interna de uma autoridade de vocação absoluta e a hegemonia francesa no panorama político e cultural de todo o continente. As orações fúnebres então proferidas glosaram a dificuldade de comparar as virtudes do “Grande Monarca” aos personagens da mítica Antiguidade: na sua constância, no seu nobre caráter e no seu poderio, nenhum outro príncipe se lhe equiparava; e o extenso período em que estivera instalado no trono, com as venerandas insígnias da sua função, era já percebido como um autêntico “Século de Ouro”. Diversos outros reinos da Cristandade tenderam a querer adaptar ou reproduzir alguns dos aspetos desse sucesso. Em Portugal, coube sobretudo a D. João V, enriquecido por surpreendentes recursos coloniais, a adoção de um conjunto de práticas de requinte e bom gosto que, para além dos parâmetros arquitetónicos e das obras de arte oriundas de Roma, cada vez mais demandavam manufaturas de luxo como as impulsionadas por Jean-Baptiste Colbert: tapetes, tecidos, móveis, calçado, pratas, joalharia, carros de aparato…  Logo a seguir à assinatura dos tratados de paz de Rastatt-Baden-Utreque (1713-1715), e justamente a partir dos últimos meses de vida de Luís XIV, o jovem Rei “Magnânimo” passou a manter em Paris agentes, ministros e embaixadores encarregados das regulares obrigações diplomáticas bilaterais e das crescentes necessidades de consumo da sua corte. Paralelamente, em Lisboa, foram aumentando as casas de negócios interessadas em corresponder à nova procura. Assim se deu a aquisição de numerosos tesouros, dentre os quais figuram os acervos de algumas grandes bibliotecas. O Palácio Nacional de Mafra assinala os 300 anos da morte do maior dos Bourbon com a exposição de mais de uma centena de livros que pertenceram a alguns dos seus súditos. São espécies, em boa parte, consideradas excecionais já na altura em que atravessaram os Pireneus. As suas marcas de proveniência denunciam nobres e eclesiásticos de primeira grandeza (Rochechouart, Caumont, Champvallon, Caumartin…), mas também os mais variados representantes do mundo das letras, em que se incluem alguns de modesta extração. Pelo meio, ressaltam os nomes de Bossuet, de Fouquet, do próprio Colbert, e de ilustres príncipes régios, como Luís XIII, seu filho e sucessor, Louis Dieudonné, Gaston de Orléans e o regente Philippe. Procura-se aqui valorizar esse notável conjunto, por intermédio de retratos coevos, geralmente armoriados, que ajudam à identificação pessoal das imagens gravadas no couro ou impressas à parte, sobre papel, e coladas nas contracapas dos livros. Em certa medida, trata-se de promover o reencontro entre a memória dos bibliófilos representados e os seus objetos de estudo e coleção. Tiago C. P. dos Reis Miranda – Comissário Científico